O 2º andamento do 4º Concerto para piano e orquestra de L.V.Beethoven tornou-se muito "discutido" entre a maior parte dos músicos devido ao seu carácter melancólico, introspectivo e esperançoso. Sugiro-vos uma audição baseada na seguinte "imagem": Uma conversa entre duas pessoas, uma delas é representada pelas cordas e fala de uma forma agressiva tentando impor a sua consternação e revolta. Beethoven reforça este cenário com a utilização do uníssono em forte. O outro interveniente do diálogo ganha forma através do lirísmo do piano, com suaves acordes, calmos, quase "ad libitum". Parece dizer que com calma tudo é simples, começa a conseguir, lentamente convencer a orquestra da sua visão das coisas até que aos 2:35 inicia um grande discurso (que se estende quase até ao final do andamento) onde sintetiza toda a sua sabedoria. Finalmente, a orquestra rende-se e a discusão dissipa-se pondo fim ao andamento. Claro que cada um tem a sua visão, o que pertendo é que especulem sobre as emoções. Deixo-vos uma grande interpretação de Rubinstein e...silêncio.
Neste excerto de um documentário sobre o projecto educativo em Belgais podemos assistir a um masterclass orientado pela pianista portuguesa Maria João Pires. Um grupo de estudantes de vários conservatórios Europeus foram convidados a participar neste Masterclass. Espero que gostem. Para saberem mais sobre este projecto educativo podem visitar: http://www.citi.pt/belgais/contents.html
Neste dia, em 1752, nascia o construtor de pianos e harpas Sébastien Érard (1752-1831)Fundador da firma Érard contruiu o primeiro piano em França em 1777. Patenteou inúmeras inovações tecnológicas para harpa e também para piano. Talvez o maior contributo tenha sido o mecanismo de duplo escape que inventou e começou a produzir por volta de 1823, mecanismo esse que na sua essência ainda é o mesmo utilizado nos pianos actuais. Liszt com 13 anos tomou conhecimento deste mecanismo (quando de uma viagem a Paris) e ficou fascinado. Daí em diante a firma Érard ficou sempre ligada a Liszt, fornecendo-lhe instrumentos e as Salas Érard para os seus concertos. Não só Liszt preferia os pianos Érard. Eles eram procurados por inúmeros pianistas, entre os quais Beethoven que possuia um piano desta marca datado de 1803 (ver foto).
Por coincidência, a data de 1803 é o ponto-chave também para a segunda efeméride de hoje. Foi nesse ano, a 5 de Abril, que estreou o Concerto para Piano e Orquestra No.3 em Dó menor, Op.37 de Ludwig van Beethoven no Theater an der Wien (em Viena) com o compositor como solista. Neste concerto também foi estreada a sua Sinfonia No.2.
Composto em 1800, este concerto foi dedicado ao Príncipe Louis Ferdinand da Prussia. Na altura da estreia a partitura de piano ainda não estava completa. Ignaz von Seyfried que virou páginas no concerto a Beethoven disse: "Eu não via senão folhas vazias. Na melhor das hipóteses, numa ou outra página uns quantos hieróglifos, indecifráveis para mim, estavam escrevinhados para servirem de dicas a Beethoven, uma vez que ele tocou quase toda a parte de solista de memória, pois, como era hábito, não teve tempo para a pôr por escrito."
Beethoven só escreveria a parte do solista cerca de 1 ano mais tarde quando o seu aluno Ferdinand Ries tocou este concerto e era, aparentemente, avesso a tocar "notas invisíveis".
Deixo-vos uma magnífica interpretação deste concerto por um magnífico pianista: Mikhail Pletnev
Beethoven - Concerto para Piano em Dó menor, Op.37 [partitura] 1. I. Allegro con brio | 2. II. Largo | 3. III. Rondo. Molto Allegro Mikhail Pletnev, piano Russian National Orchestra | Christian Gansch, maestro (gravado na Beethovenhalle em Bona a 2 de Setembro de 2006. A pedido do pianista foi utilizado um piano Blüthner)
Finalmente, ainda neste dia, mas em 1798, nascia o construtor de pianos norte-americano Jonas Chickering (1798-1853)
Na altura da sua morte, a companhia Chickering tinha vendido mais de 12000 pianos e produzia cerca de 1500 por ano. Os seus pianos notabilizaram-se pelo som brilhante e poder sonoro bem como pela grande solidez. Talvez por isso Glenn Gould gostava tanto do piano Chickering que tinha na sua casa do Lago Simcoe. Este piano está actualmente no Glenn Gould Studio no Canadian Broadcasting Centre em Toronto (ver foto à esquerda).
Continuando na onda das coincidências, ontem na aula do meu aluno Gonçalo falámos precisamente do vídeo que vos vou mostrar aqui hoje. E mais do que isso, ainda hoje falei com um colega sobre este vídeo também e sobre o piano Chickering em particular. Tudo isto sem saber que uma das efemérides deste dia era precisamente esta. Coincidências...
No primeiro vídeo que vos deixo podemos ver Glenn Gould na sua casa de campo no Lago Simcoe a "estudar" um pouco da Partita No.2 em Dó menor de J.S. Bach. É um vídeo curioso onde nos podemos aperceber um pouco da personalidade de G. Gould. Não nos devemos nunca esquecer que embora não pareça, esta situação é "encenada" para as câmaras. Gould nunca deixava nada ao acaso e esta "sessão de estudo" também não o foi certamente.
No segundo vídeo, podemos ver e ouvir o piano Chickering de Gould mas na actualidade com a vantagem de ser a cores. A grande desvantagem é não ser G. Gould a tocá-lo... o pianista é Stephen Ham a tocar o último andamento do Concerto Italiano de J.S. Bach
Como alguns repararam (pelo menos 2 manifestaram-se...) o post intitulado "a gravação mais antiga que se conhece" era a nossa "mentirinha de 1 de Abril".
A gravação que dizia respeito ao Brahms é verdadeira bem como tudo o que lá escrevi sobre ela.
Quanto à gravação do Chopin...bem...digamos que...NÃO é verdadeira !
Trata-se da gravação da Valsa do Minuto tocada por S. Rachmaninoff e alterada em vários aspectos por mim. Acelerei o número de batidas por minuto (bpm) de forma a que a execução demorasse exactamente 1 minuto e utilizei alguns efeitos sonoros de forma a "envelhecer" (ainda mais) a gravação.
Espero que as 3 pessoas que lêem este Blogue tenham gostado ! principalmente o Gonçalo, que, aparentemente "caiu" na esparrela...
Neste dia, mas em 1897, morria o compositor e pianista alemão Johannes Brahms (1833-1897)Um dos maiores expoentes do Romantismo musical
Deixo apenas dois exemplos da arte de Brahms. Dois exemplos muito diferentes: uma transcrição e uma lindíssima pequena obra original 1. Bach - Chacone da Partita para Violino No.2 em Ré menor, BWV 1004 (transcrição de J. Brahms para a mão esquerda) Grigory Sokolov, piano (gravação ao vivo de 16 de Fevereiro de 2003)
2. Brahms - Intermezzo em Mi maior, Op.116 no.4 (Adagio) [partitura] Imogen Cooper, piano
Ainda neste dia, mas em 1948, nascia o pianista norte-americano Garrick Ohlsson (1948- )Aluno de grandes pianistas como Claudio Arrau e Rosina Lhevinne, foi o primeiro pianista norte-americano a vencer o Concurso Chopin de Varsóvia (em 1970). Aos 13 anos de idade entrava para a Juilliard School.
Aqui fica a interpretação da Sonata No.3 em Si menor, Op.58 de Chopin, precisamente a interpretação no concurso de Varsóvia:
Chopin - Sonata em Si m, Op.58 [partitura] 1. I. Allegro maestoso | 2. II. Scherzo: Molto vivace | 3. III. Largo | 4. IV. Finale: Presto non tanto; Agitato Garrick Ohlsson, piano
Neste dia, em 1951, morria o pianista russo Simon Barere (1896-1951)Virtuoso pianista, morreu durante a execução do Concerto para Piano de Grieg, no Carnegie Hall, com a Philadelphia Orchestra dirigida por Eugene Ormandy, vitima de hemorragia cerebral. Aluno de Blumenfeld (tio de Neuhaus e professor de Horowitz) no Conservatório de São Petersburgo.
Deixo aqui duas obras gravadas por Barere e que ficaram como "marcos" de interpretação:
1 a 6. F. Liszt - Sonata em Si menor, S.178 (gravação de 1947) [partitura] 7. M. Balakirev - Islamey(gravação de 1936) [partitura] Simon Barere, piano
Outras efemérides deste dia dignas de registo: - Estreia da 1ª Sinfonia de Ludwig van Beethoven em 1800 no Hofburgtheater em Viena.
Na semana passada, saiu a notícia da descoberta da gravação mais antiga que se conhece relacionada com a música clássica. Até agora o 1º exemplo (de 1889) era de Johannes Brahms onde se podia ouvir a voz do compositor e até ele a tocar um excerto da sua Dança Húngara No.1:
Mas a gravação agora descoberta é ainda anterior. Foram descobertos 3 cilindros e uma carta enterrados num quintal mesmo ao lado da casa de Chopin em Montfort l'Amaury em França. Na carta, um inventor escreveu que tinha construído um aparelho de gravação no ano de 1849. O som era inscrito com de uma pequena ponta semelhante ao pico de uma pena para escrever e através de uma membrana vibratória. Ele pediu ao seu vizinho Chopin que tocasse alguma coisa para ele gravar, mas como não conseguia reproduzir o som gravado, enterrou tudo no seu quintal e caiu no esquecimento.
A gravação que agora se conseguiu recuperar é da sua Valsa do Minuto que curiosamente demora mesmo 1 minuto na interpretação de Chopin:
Neste dia, em 1866, nascia o compositor e pianista italiano Ferruccio Busoni (1866-1924)Filho de um clarinetista italiano e de uma pianista de origem alemã, compôs as suas primeiras obras para piano aos sete anos de idade. Estudou na Áustria e estabeleceu residência em Berlim em 1894. A partir daí desenvolveu a sua carreira tornando-se um dos maiores pianistas do seu tempo. Foi grande amigo do pianista português José Vianna da Motta com quem manteve intensa correspondência. (disponível em livro). Se fosse Busoni a escrever este texto, poderia terminá-lo com a seguinte assinatura: Se alguém a quiser explicar...
Também neste dia, mas em 1873, nascia o pianista e compositor russo Sergei Rachmaninoff (1873-1943)
Nasceu em Vovgorod, filho da classe alta da sociedade russa.
Os seus talentos musicais foram descobertos muito cedo e foi encorajado a receber formação adequada. Entrou para o Conservatório de S. Petersburgo mas a sua motivação não correspondia ao seu talento, não realizando um trabalho adequado. Devido a isto, a sua mãe falou com um primo seu, Alexander Siloti (aluno de Liszt) que recomendou que Rachmaninoff estudasse com Nicolai Zverev em Moscovo. Rachmaninoff assim o fez em 1885 vivendo e estudando em casa de Zverev durante quatro anos. Foi aqui que teve oportunidade não só de se desenvolver tecnicamente, como de ouvir grandes interpretações de músicos como Anton Rubinstein e de conhecer outros como Tchaikovsky.
Quando deixou a casa de Zverev entrou para o Conservatório de Moscovo onde estudou com Siloti, Taniev e Arensky, tendo como colega, entre outros, Scriabin. Rachmaninoff acabou o curso um ano mais cedo do que era normal (com 19 anos) e recebeu a rara "medalha de ouro" do Conservatório.
Passou a dedicar-se mais à composição e depois de atravessar já a muito conhecida fase de depressão e inactividade, saiu da Rússia em 1917, tendo optado por seguir a carreira de pianista como forma de sustentar a sua família. Esta carreira terminaria em 1942-43 devido a problemas de saúde.
O seu recital em Knoxville em Fevereiro de 1943, no Allumni Gymnasium da Universidade do Tennessee seria o último que daria e, curiosamente, uma das obras tocadas foi a 2ª Sonata para piano de Chopin (Marcha Fúnebre). Existe hoje nesse local uma estátua de Rachmaninoff a assinalar o acontecimento. Ainda antes da sua morte (poucos dias antes de fazer 70 anos) tornou-se cidadão americano.
As suas mãos enormes sempre foram objecto de admiração e várias "curiosidades". Se é comum ler que elas abrangiam uma extensão de 12ª, menos comum é ler que a sua mão esquerda conseguia tocar: dó-mib-sol-dó-sol enquanto que com a direita conseguia tocar: dó (com o 2º dedo)-mi-sol-dó-mi (com o polegar por baixo da mão). Incrível !
Deixo-vos 6 interpretações de uma pequena obra de Rachmaninoff: o seu Estudo-Quadro Op.39 no.5 em Mib menor. É também um Quiz, pois gostava que opinassem em relação às interpretações, que eu depois de algum tempo divulgarei quem são os intérpretes. (podem sempre tentar adivinhar quem são os intérpretes também...)
As gravações são, obviamente, com qualidade muito diversa, pois foram realizadas em condições muitíssimo diferentes, quer no que diz respeito à data de gravação, quer no que diz respeito ao facto de serem ao vivo ou em estúdio. Fica também a partitura para seguirem melhor.