sexta-feira, 21 de março de 2008

Dia Mundial da Poesia

Quem mais?

Se eu morrer novo,
Sem poder publicar livro nenhum,
Sem ver a cara que têm os meus versos em letra impressa,
Peço que, se se quiserem ralar por minha causa,
Que não se ralem.
Se assim aconteceu, assim está certo.

Mesmo que os meus versos nunca sejam impressos,
Eles lá terão a sua beleza, se forem belos.
Mas eles não podem ser belos e ficar por imprimir,
Porque as raízes podem estar debaixo da terra
Mas as flores florescem ao ar livre e à vista.
Tem que ser assim por força. Nada o pode impedir.

Se eu morrer muito novo, oiçam isto:
Nunca fui senão uma criança que brincava.
Fui gentio como o sol e a água,
De uma religião universal que só os homens não têm.
Fui feliz porque não pedi cousa nenhuma,
Nem procurei achar nada,
Nem achei que houvesse mais explicação
Que a palavra explicação não ter sentido nenhum.

Não desejei senão estar ao sol ou à chuva —
Ao sol quando havia sol
E à chuva quando estava chovendo (E nunca a outra cousa),
Sentir calor e frio e vento,
E não ir mais longe.

Uma vez amei, julguei que me amariam,
Mas não fui amado.
Não fui amado pela única grande razão —
Porque não tinha que ser.

Consolei-me voltando ao sol e à chuva,
E sentando-me outra vez à porta de casa.
Os campos, afinal, não são tão verdes para os que são amados
Como para os que o não são.
Sentir é estar distraído.

Poemas Inconjuntos
Alberto Caeiro
7-11-1915

16 comentários:

Anónimo disse...

Se, depois de eu morrer, quiserem escrever a minha biografia,
N�o h� nada mais simples.
Tem s� duas datas - a da minha nascen�a e a da minha morte.
Entre uma e outra coisa todos os dias s�o meus.


Adoro adoro adoro, obrigada pelo Post! Fernando Pessoa � assim... algo indescrit�vel! � fant�stico, arrepiante, espectacular, extraordin�rio, perfeito :-)

Anónimo disse...

posso fazer copy paste do que a Catarina disse? :p

NB disse...

com Alberto Caeiro o difícil foi escolher apenas 1 poema para pôr aqui...

Anónimo disse...

Completamente. É tudo fantástico, Ele era um génio! :-D Pessoa e Camões estão no meu top.

Raquel, claro que podes. E não te preocupes, depois falamos nos direitos de autor :-P

Anónimo disse...

Rita* :p

Anónimo disse...

ai sim, rita xD Aliás, eu sabia que tu te chamas Rita mas há pouco estive a falar com a minha prima Raquel e fiquei com o nome na cabeça

Anónimo disse...

Excelente poeta para assinalar o dia da poesia, excelente poema para o representar!! Aprecio muito a obra dele e embora genial, não o considero perfeito, pois a filosofia anti-filosófica tem as suas lacunas e contradições e ao lêr alguns poemas dele percebo porque é que este homem nunca poderia "ter sido". Para mim, mais perfeito será o seu discípulo Ricardo Reis...
No entanto, A.C. tem coisas quase parvas de que eu gosto, como por exemplo:
"O luar quando bate na relva
Não sei que cousa me lembra... Lembra-me a voz da criada velha Contando-me contos de fadas.
E de como Nossa Senhora vestida de mendiga
Andava à noite nas estradas Socorrendo as crianças maltratadas...
Se eu já não posso crer que isto é verdade
Para que bate o luar na relva?
Mas segundo o próprio Fernando Pessoa, a Catarina e a RC terão alguma razão, pois os poemas de A.C. podem contar-se até 49 (resultado da multiplicação do No da perfeição por si próprio...)!

NB disse...

É verdade. Tanto os Poemas Inconjuntos como o Guardador de Rebanhos são grupos de 49 poemas.

Eduardo Jordão disse...

Só sei que Alberto Caeiro é o meu heterónimo preferido, talvez por ser o mais Humano.

Anónimo disse...

Pois é, o Alberto Caeiro é também o heterónimo que eu gosto mais :-) Mas também adoro Fernando Pessoa ortónimo, sem dúvida.

Anónimo disse...

Curioso, porque nunca o tinha visto como o mais humano, sempre o achei o mais etéreo... Ainda assim, é também o da minha eleição, apesar de só agora começar a descobrir os labirintos da "lucidez estérica" de um outro heterónimo...

NB disse...

Provavelmente Ávaro de Campos, certo?
E também é provável que seja "histérica" e não "estérica", certo?

espiritualista português disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anónimo disse...

Certo, estou a estudar o Sr. Campos e é "histérica", também confirmo! Aliás, eu sabia que assim era, mas estive na conversa com a minha prima e fiquei com "estérica" na cabeça... acontece a algumas pessoas, que eu sei...

Eduardo Jordão disse...

Mais humano no ponto de vista da sensibilidade, que quanto a mim é uma questão mais humana do que "etérea". Mas claro que o seu lado etéreo existe. Como em qualquer humano Humano como ele.

Jubylee disse...

Muito bonito. Este ainda não conhecia.
Alberto Caeiro é concerteza o meu heterónimo favorito de Fernando Pessoa.

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