Pianistas - parte 2
A maioria dos pianistas estão absolutamente fartos de tocar e gravar os 20 concertos do top. Tal como os maestros, gostam de fazer o seu conjunto de concertos de Beethoven e embarcariam de bom grado nos 27 de Mozart, mas são geralmente desencorajados de cometerem esta agradável extravagância. A outra coisa que todos os pianistas gostam de gravar é o conjunto das valsas de Chopin. Um pianista é um alvo fácil de críticas. Devem ser lançadas de imediato dúvidas sobre a sua forma de tocar - «sombria, peso pluma, sem a firmeza necessária»), é uma das direcções possíveis das críticas; «toca com os pés, atravancado, inflexível, pesado, exibicionista», é a outra. Os pianistas ignoram, por norma, as indicações dinâmicas dos compositores - quer isto dizer que tocam suavemente onde deviam tocar com intensidade, e vice-versa. As indicações dos pedais são tratadas como se fossem anedotas - que direito, perguntam eles, têm os compositores de dizer-nos quando devemos usar os pedais? Neste aspecto, têm muito em comum com os taxistas. Contudo, a doença mais espalhada entre os pianistas é o rubato. O rubato é urna variação do tempo, uma suave lentidão nos momentos de maior emoção, um acelerar em passagens já de si frenéticas. Os pianistas do século passado levaram a sua paixão pelo rubato ao ponto de este se ter tomado uma mania. Aplicavam-no sobretudo a Chopin. Os críticos, por uma vez sem exemplo, adoraram; e isto teve, evidentemente, como consequência O abandono quase total do rubato pelos pianistas de hoje. Agora atacam Chopin com uma precisão infalível e sem qualquer variação de velocidade; tudo fica a soar corno se fosse um rolo de pianola, Como a pontuação de qualquer género, o rubato deve ser usado, mas sempre com moderação. Um excelente tópico de conversa, sem dúvida.
in Gammond, Peter "O especialista instantâneo em música", Público-Gradiva
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