segunda-feira, 26 de fevereiro de 2007

O escândalo Hatto - 3

Numa reviravolta espantosa dos acontecimentos, a revista Gramophone soube de uma carta enviada por
William Barrington-Coupe (marido de Joyce Hatto) para a direcção da editora discográfica BIS onde ele confessa os seus actos na questão do plágio. Seguidamente a revista Gramophone contactou Barrington-Coupe que confirmou que mantém as afirmações da referida carta.

Barrington-Coupe explica que é verdade que fez passar gravações de outras pessoas por gravações da sua mulher, mas que o fez para lhe dar a ilusão de um fim digno para uma carreira injustamente ignorada (como ele refere).

O surgimento do Compact Disc (CD) em 1983 significou que as cassetes que ele estava a produzir da sua mulher a tocar foram rapidamente ignoradas pelos críticos, pois as revistas (como a Gramophone) fizeram gradualmente a transição para o novo formato. Foi alguns anos mais tarde que Barrington-Coupe teve a capacidade de produzir CDs, mas nessa altura Joyce Hatto já estava num estádio avançado da doença que mais tarde seria a causa da sua morte. Ele tentou transferir as gravações das cassetes para CDs mas sem grande sucesso. Então a
sua decisão foi de regravar o repertório da sua mulher.

Embora Joyce Hatto mantivesse um regime de estudo rigoroso, Barrington-Coupe refere que ela sofria mais do que queria admitir. As sessões de gravação eram marcadas pelos gemidos de dor enquanto tocava e o seu marido não sabia o que fazer para resolver a questão.

Lembrando-se da história de Elisabeth Schwarzkopf e de Kirsten Flagstad numa gravação da EMI do Tristão e Isolda de Wagner, pensou que algo semelhante poderia ser feito neste caso. Começou a procurar pianistas cujo som e estilo fosse semelhante ao da sua esposa, e assim que os encontrasse, utilizaria pequenas inserções nas suas gravações de forma a enconbrir as imperfeições da sua mulher.

A pouco e pouco começou a utilizar secções cada vez maiores para faciliar o processo de edição e descobriu, por acidente, como alterar o tempo da execução para disfarçar o som.

As execuções foram tidas como soberbas em várias revistas da especialidade e finalmente a sua mulher tinha o reconhecimento que ele sentia ser justo.

Barrington-Coupe diz-se arrependido e que agiu estupida e desonestamente. Garante que não ganhou grandes quantias com o que fez.

O que agora se pede é uma lista exaustiva das gravações que na realidade são feitas por Joyce Hatto e quais não são, com os nomes dos verdadeiros executantes. Barrington-Coupe responde que não quer enveredar por esse caminho, acrescentando que terminou toda a operação e que destruiu todo o stock parando toda e qualquer produção.

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